segunda-feira, outubro 09, 2006

Ainda o dia dorme em sono de menino;
Ingénuo, terno, frágil;

Já calhaus tropeçam sobre botas arrastadas e gastas.
Homens como extensões de enxadas penteando encostas,
Mulheres com cabeças feitas de cestas serpenteando os trilhos.

Mais abaixo, muito mais; sobre um lençol mais esticado;
A planície perde-se de vista.

Troca-se o granito por torrões de terra.
Homens cortados na cintura pelas espigas,
Mulheres mergulhando incessantemente aqui e ali.

O vento sopra sobre os campos
E faz soar uma onda que beija suavemente a areia;
Sente-se os dedos a escorrer da cama.

Acordai!
Não matem os meus pastores, os lavradores, pescadores,
Não ignorem os Homens de cara queimada,
Não lhes roubem a sua grande riqueza; o seu sorriso sincero.

António Morgado